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Coleção Tobias d’Ângelo Visconti
2003 – Coleção Tobias Stourdzé Visconti
2005 – Doado ao Museu Nacional de Belas Artes
Este não é propriamente um caderno e sim, um conjunto de páginas desmembradas de diferentes cadernos, todas pertencentes ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro.
Nas páginas 004 e 005 (páginas deste caderno após os comentários) Visconti desenha um lampião do antigo Cais Faroux, na Praça XV de Novembro, em agosto de 1901. Visconti voltaria à Praça em setembro para desenhar o mesmo lampião [D850].
No mesmo ano e no seguinte, desenha esboços do que seria a capa do Annuário Fluminense (páginas 007, 008 e 009), cujo desenho definitivo está na obra [A841].
A página 011 apresenta um estudo de selo, cujos projetos definitivos de Visconti foram vencedores do concurso aberto pelos Correios em 1903. Apresenta também um primeiro esboço do que seria o ex-libris da Biblioteca Nacional [A803].
Em diversas páginas, Visconti esboça diferentes animais e nas páginas 18, 20, 33, 36 e 37 registra no interior da França, em 1918, prisioneiros alemães no campo, durante a Primeira Guerra Mundial, trabalhando na colheita do trigo.
Na página 27 está esboçada uma residência em Saint Hubert que seria também objeto de duas pinturas a óleo de Visconti, a [P445] e a [P426].
À página 38, Visconti faz anotações sobre medidas e detalhes da mesa diretora da então Câmara Federal, no Palácio Tiradentes, com o objetivo de executar o grande painel representando a assinatura da Constituição de 1891 [P701].
Dentre as páginas desmembradas deste caderno encontra-se também um pequeno diário de Visconti, registrado no período em que executava as pinturas do foyer do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Neste diário Visconti relata passagens que vivenciou durante a primeira guerra, como por exemplo quando se viu na obrigação de enrolar seus trabalhos e painéis e se refugiar em Le Mans, transcritas abaixo.
Por ocasião de sua tese de doutorado Les Artistes Bresiliens et “Les Prix de voyage en Europe” A la fin du XIXe siècle: vision d’ensemble et etude approfondie sur le peintre Eliseu d’Angelo Visconti (1866-1944) – U. F. R. d’Histoire de l’Art et Arqueologie, Pantheon Sorbonne, Université Paris I, Paris, 1999, a historiadora e pesquisadora Ana Maria Tavares Cavalcanti traduziu e interpretou todos os relatos que Visconti deixou nos cadernos que hoje encontram-se no acervo do Museu Nacional de Belas Artes. Contando com a colaboração de Tobias d’Ângelo Visconti, filho do artista, esses relatos foram à época datilografados com comentários e fazem parte do acervo do Projeto Eliseu Visconti.
Diário de Visconti – De 2 a 23 de setembro de 1914
2 de setembro
Pouco dormi esta noite. Levantei-me às quatro horas. Fui na gare Montparnasse, comprei le Petit Journal. As noticias me alarmaram muito. Fui ao atelier buscar uma calça e fui para casa preparar a minha bicicleta para seguir para St Hubert. Parti de Paris às sete horas, chegada à porta de Châtillon, não me deixaram passar por falta de sauf-conduit. Fui para o Commissaire, estava fechado. Voltei para a porta de Chatillon. desta vez me deixaram seguir. A viagem correu bem até Versailles. As ruas quase desertas. Apenas alguns … levando familias fugitivas para Versailles.
Afinal … para transpor a cidade. Fui ao Comissario, este disse que não era com ele, que deveria ir para Brigada Central em frente ao Château. Ai penetrei por uma das grades das casernas a esquerda e um militar me iformou que para obter este documento era necessario dirigir-se ao Comissariado Central no Hôtel de Ville. Ali tive que fazer um cauda de uma hora. Finalmente penetrei no Bureau onde havia três escrivães chacoteando e fazendo espirito com as pobres mulheres que se apresentavam. Depois de lhes explicar pude obter o meu documento e prossegui a permissão para a Porta de Versailles. Até S. Cyr nenhuma dificuldade. Varias vezes até os Essarts tive de apear-me para exibir o meu documento. O sol estava quente e eu já estava cansado da pausa de Versailles que em vez de chegar a St Hubert às 11 horas, cheguei só ao meio dia e um quarto cansadíssimo. Almocei logo e o resto do dia passei-o sentado contemplando a natureza porém muito impressionado com as noticias da guerra e sem poder tomar uma resolução definitiva, se devíamos sair ou ficar expostos em St Hubert. Deitei-me às oito horas da noite. Dormi bem até o dia seguinte, dia 3 de setembro.
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3 de setembro de 1914
Dia esplêndido, sol quente e lua brilhante cheia. As oito horas da manhã fui aos Essarts colher noticias da guerra, estive duas horas na estação. Durante este tempo passaram quatro trens militares cheios de tropa inglesa. O entusiasmo era extraordinário, havia gente pendurada por toda parte por fora do trem, e outros deitados nos telhados dos vagões, e o povo da terra ovacionando-os ao passar com frênesi e eles respondiam da mesma forma. depois do almoço resolvi partir. Partimos no dia seguinte. metermo-nos ao abrigo do perigo. As quatro horas fui encomendar um carro e deu-se começo as bagagens. …de noite … partimos para Chartres e para ai dirigimos a nossa bagagem.
4 de setembro
Dia maravilhoso e quente. As sete e um quarto partimos para Les Essarts. Chegando à estação havia uma onda de povo. Perguntei ao nosso cocheiro se queria levar-nos para Chartres de carro. Disse-nos que só o patrão poderia resolver. Deixei a família na estação e voltei a St Hubert perguntar, nada pude obter. Voltei para a estação, comprei bilhetes para Chartres e embarcamos no primeiro trem depois de alguns minutos de espera.
É difícil o modo como entramos no vagão. Os que estavam do lado de dentro nos repeliam. Porém depois de um combate conseguimos penetrar onde havia já o triplo da estação. todos os passageiros me receberam com uma certa indulgência. Luiza e Yvonne puderam ir sentadas, eu fiquei de pé até Chartres. Tobias tinha estado doente, estava muito abatido, e pouco conversava. A totalidade dos passageiros era mulheres e crianças exceto eu e um bom velho. Chegamos a Chartres a uma e meia da tarde. por toda parte notava-se uma confusão e um pânico quase indescritível. Nas estações havia mulheres pedindo pão e ai pude obter uma garrafa de cidra. O campo de Chartres é pouco interessante. A partir desta estação o terreno é ondulado, gordo e rico de vegetação. Agora andávamos com mais rapidez e os trens pouco paravam nas estações. O cansaço nos ia dominando e o calor concorria ainda mais para isto. A noite veio chegando, um quarto hora antes de chegar Le Mans. O trem fez uma parada de uma hora. Seguiu mais quinze minutos, nova parada de uma hora. Finalmente o Tobias já se impacientava e aborrecendo. Queria dormir. Distraia-o hora tomando no colo, hora contando historias e desta forma estopamos na estação de Le Mans. Distribui as bagagens a cada um e fui pagar a diferença que devia de Chartres até Le Mans que importou em 21 francos e 60 centavos. Tomei informações com o empregado da estação onde podia achar um cômodo. Este nos indicou Mme R. Vayer, 85, rue du Chemin de Fer. Um homem ao nosso lado ofereceu-se a transportar as nossas bagagens. Depois de termos andado uns vinte minutos a pé chegamos ao endereço supra. Depois de termos tratado o preço pelos dois quartos seis francos, o dono arranjou-nos as camas. Comemos um resto de galinha que nos havia ficado da viagem com o litro de cidra, queijo, e fomos nos deitar. Quartos limpos e cama muito asseada. Passamos uma boa noite. Acordados continuamente pelos estribilhos das locomotivas pois a nossa casa dista … da linha. Tobias logo que acordou disse que queria que comprasse dois pares de sapato. Não sei que relação tinha isso com a ideia de sapatos.
5 de setembro
Depois de minha toalete fui a rua sete e meia, dirigi-me à gare para procurar noticias de novo. Fui a um bazar para comprar vários apetrechos para dar uma lavagem ao Tobias. Comprei agua de Vichi, um xarope e um limão por vinte centavos e voltei para casa. Encontrei-me com a família que saíra para tomar café. Entramos num hotel, pedimos café com leite depois de longa demora fomos atendidos. Custou um franco e trinta. Pão, café, leite e manteiga. Voltamos na mesma casa para almoçar um potage, duas biftecks e pomme rotie. Uma garrafa de boa cidra, frutas e café, total quatro francos. Saímos, tomamos um bonde, fui ver uma outra igreja gótica. Interior interessante. Vitrais banais. Entramos num bazar, compramos varias coisas, cassaroles, pratos, taças, colherzinhas, tudo na importância de 5 francos. Espirito de vinho, pão e manteiga, pastilhas de vichy.
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6 de setembro
Deixei Le Mans as onze horas da manhã. Dirigi-me a Paris. Viagem boa, sem incidentes. Cheguei a Paris às nove horas da noite. jantei alguma coisa no restaurante de Versailles. Figos, haricots verts, cerveja e pão. Entrei para dormir, estava tão cansado que só acordei as seis da manhã. depois da minha toalete fui procurar o Costa.
7 de setembro. Fui com o Costa ao meu atelier [Rue Didot]. Começamos a enrolar as duas grandes telas. Calor forte. Terminamos a operação a uma hora da tarde, fazendo dois rolos bastante pesados. Fomos almoçar perto do atelier. Poule au riz, risoto, e fromage. Me dirigi com o Costa ao Correio, avenue de Versailles. Recebi uma carta registrada do Angelo (sobrinho que ficara no Rio tomando conta do atelier da Men de Sá, alugado, assim como duas lojas embaixo alugadas também) com um cheque de três mil duzentos e setenta e dois francos. No Crédit Lyonnais tive grande dificuldade em receber esta quantia. Finalmente consegui. Voltei para o atelier às 5:30 da tarde. Arrumei varias coisas. paguei minha femme de ménage. Voltei para jantar com o Costa no Baudet. Tínhamos na nossa companhia uma argentina. Depois da refeição descemos pela Rue de Rennes até o Boulevard Raspail. A rua quase no escuro, e pouca gente em circulação. Entrei às dez horas para dormir, muito cansado. [Apartamento no 1, Bd. Edgard Quinet] As sete da manhã do mesmo dia fui fazer queue para obter a minha licença para viajar no dia 8 com o trem das 11:23. Dormi bem a noite, e levantei-me às seis da manhã.
8 de setembro, 1914
De manhã estive no atelier às sete e meia. Carreguei numa carrocinha as minhas duas telas com as decorações e os cartões. O Sr. Elleboude emprestou-me o filho para esta operação. Deveria partir as 11:23. Levei a minha valise para a estação e tomei o meu lugar num vagão de segunda classe. Sai da estação para fazer dois cheques internacionais de mil francos cada um para meu irmão na Itália. Fui almoçar na Cremerie, ovos e chocolate. Embarquei para Le Mans às 11:23. A viagem correu bem até Chartres. Depois a marcha sempre interrompida. Cheguei à Le Mans as doze horas da noite. Encontrei todos bons. Dormi mal. Onde estamos hospedados o movimento de trens é extraordinário. Toda a noite sem cessar. De manhã me levantei às sete horas.
Dia 9 setembro 1914
As noticias da guerra são favoráveis. Os prussianos começaram a recuar. Nota-se no publico uma certa animação. Durante todo o dia passaram quatro trens de feridos. Quase todos nos braços e nas pernas, entre os quais muitos algerianos exibindo apetrehos tomados ao inimigo. cascos dourados, bonés gris, punhais com cinturões de oficiais, muitos cartuchos e mil outros objetos. de quando em quando um trem da cruz Vermelha. Aí se tratava de feridos graves. Ninguém se exibia nas janelas. A tarde fui ver um cômodo nos arredores do Mans. depois de percorrer três quilômetros, cheguei num lugar denominado Tusciclan …, parque, muitas flores. Mostraram-me um quarto e pediram-me seis francos por pessoa. Não era possível, o budget não dava para moitié. A noite jantamos no restaurante, pouca coisa. demos um passeio no meio de um povo extraordinário de nacionais e de soldados ingleses. Estes soldados impressionam pela beleza do porte. Jovens, retos e especialmente bem nutridos, eles são livres em seus movimentos e são muito admirados pela população que os festeja alegremente. Voltamos todos para casa, o Tobias vai melhor e deitamos. Toda noite o movimento de vai e vem dos trens. Onde habitamos não convém para a família. Assistimos a todos os movimentos de tropas, é muita agitação. E somos acordados a cada instante. É preciso procurar uma outra habitação.
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10 de setembro
depois do café tomei o bonde do departamento de la Sarthe a procura de um arrebalde, um meio de vida mais barato. Depois de percorrer seis quilômetros cheguei a Changé, estação cujo pais fica a dois quilômetros da estação. O caminho para ir é plano e uma bela estrada toda marginada de arvores frutíferas, castanheiras, pinheiros, etc. Colhidas varias informações, me dirigi em casa da Institutrice [Mme Nampon] uma senhora de uns 50 anos, com uma filhinha de uns dois anos. depois de me haver feito ver um bom quarto, ela duvidava em dizer-me o preço. Finalmente combinamos para lá nos dirigir no dia seguinte mediante um aviso por sete francos para que ela nos pudesse mandar na estação para transportar a nossa reduzida bagagem, sim, porque grande parte dela havia ficado em Chartres no dia de nosso embarque para Le Mans. Voltei desta peregrinação às 11:30 e encontrei a família no restaurante. depois do almoço fomos ver se nossas bagagens tinham chegado. Nada de novo. Estivemos parados embaixo de um alpendre na estação por causa de uma forte chuva onde havia também vários ingleses da Cruz Vermelha. De volta para casa assistimos ao desfilar de centenas de soldados ingleses e irlandeses, todos de saia, todos gigantes e bonitos; um deles … que vinha destacado de um regimento … abriu uma bolsa de couro, apanhou uma mão cheia de biscoitos e estendeu-a para o Tobias. recebemos esta gentileza com o máximo agrado. E ele mesmo soldado sentia-se a sua comoção de poder oferece-los a uma criança. De volta para casa, ainda um trem de prisioneiros alemães. Através das grades dos vagões, pudemos ver vários soldados olhando para o infinito sem o menor movimento nos olhos. Tive desejo de cumprimenta-los, tal a compaixão que me despertaram, porém por motivos de precaução me abstive de faze-lo.
Seguiram-se varios vagões de soldados franceses que mostravam-se sorridentes da presa que tinham nas mãos. Quantos contrastes dolorosos na vida. este quadro deixou-me uma forte impressão de pena pelos infelizes prisioneiros. Depois de jantar fomos ai dar um passeio pelas ruas centrais. Muito movimento de tropas francesas e inglesas. Entramos às oito horas da noite para deitarmos.
11 de setembro
Continua o desfilar de trens da Cruz Vermelha. Muitos feridos e prisioneiros. Dia triste e chuvoso. Depois do almoço fui à Gare, saber das minhas bagagens. Neste dia cheio de peripécias, entrei na estrada de ferro debaixo de uma forte chuva. Ainda não pude obter as minhas bagagens. Enquanto esperava a chuva passar observava os prisioneiros alemães que iam e vinham acompanhados de um soldado inglês de um vagão para outro. Eles apresentavam aspecto de cansaço e abatidos, vestidos menos bem do que os ingleses e de meias botas o seu fardamento é de varias, a predominante é o gris cinzento azulado. Os oficiais são pouco visíveis, porém mais visíveis que os Ingleses. Esses não se reconhecem do simples soldado que por detalhes insignificantes. A cor do fardamento dos Ingleses é um gris marrom esverdeado; da cabeça aos pés a mesma cor. os oficiais se distinguem apenas por um simples bordado sobre os punhos quase da mesma cor do fardamento; depois do jantar começamos a arranjar nossos embrulhos para partir no dia seguinte para Changé, isto é no dia 12, às 8h 42 minutos.
12 setembro
Levantamo-nos às 6 ½ da manhã depois da toilette despedimo-nos de Mr e Mme Vayer e seguimos para o café onde tomamos o petit dejeuner café-leite-pão e manteiga, 7 1/2. Sigo para a gare saber se as bagagens chegaram, nada ainda, 8h. Volto para o café onde esperamos o tramway departamental de La Sarthe que nos devia levar a Changé. Efetivamente às 8h 45 minutos tomamos o tramway até a estação de Changé. A viagem durou apenas um quaro de hora. E durante este curto espaço de tempo passamos o campo de aviação dos Ingleses e vários plantações de pinheiros. Na pequena estação encontramos um carro, embarcamos todos os nossos volumes. Só havia um banco na frente. Eu e Louise, cada um de nós, levou sobre os joelhos Tobias e Yvonne. E o cocheiro vinha à minha direita. Pusemo-nos em marcha por um caminho com plano e em zigue-zague, ladeado de cada lado por macieiras, pereiras, castanheiras e outros arbustos frutíferos. Tínhamos que percorrer somente dois quilômetros para chegarmos à Changé. pouco a pouco fomos encontrando casinhas pitorescas e floridas. Chegamos no centro do pais, onde há uma velha igreja no centro de uma dupla ala de arvores gigantescas, tilleuls. O lado esquerdo está situado a casa da institutrice Nampon, continuação velha e desgastada pelo tempo. Calculo da época de Luis XIV. descemos todos do carro, paguei, descarreguei os volumes e entramos na nossa nova morada temporária. Mme Nampon é uma criatura mãe de uma menina de 18 meses, cheia de corpo, alegre, bonitos dentes, alegre e ágil e amável. Levou-nos para o nosso quarto onde havia duas camas preparadas para receber os nossos ossos.
Ao meio-dia almoçamos na sala de jantar que serve também de cozinha. Mesa ampla com oleado, louça colorida. O prato da terra c’est la soupe, que consiste em caldo de legumes, batatas, cenouras, feijão e pão de molho. É um prato …. e reconstituinte. Bifteck, feijão branco, sobremesa, frutas e café. As duas horas Mme nampon, conduzindo o carrinho de sua filhinha, levou-nos passear, visitar os arredores do pequeno pais e penetramos através dos campos, hora cheio de macieiras, pereiras, castanheiras, etc. A paisagem é rica e gorda. Muitos legumes. As casinhas de fermes são rodeadas de parreiras de uva branca e preta. A chuva surpreendeu-nos. Fomos obrigados a entrar dentro de uma cabana de cabras cujo proprietário queria a toda força que entrássemos em sua casa. O tempo melhorou, saímos e sentamo-nos sob enormes castanheiras cuja temperatura, apesar de fresca, era agradável e seca. Voltamos para casa depois de termos colhido pelas margens do nosso caminho um cesto cheio de neple/nefle pelo chão. chegamos à casa 5 h, às 7 jantamos sopa, ovo à la coq e purê de pomme de terre. Depois de alguns minutos deitamo-nos os quatro no mesmo quarto. Duas pessoas em cada cama. Muito tranquila a noite. As 5 h do dia treze os sinos do campanário da pequena igreja repicavam alegremente pois era um domingo. E os fiéis se preparavam para a missa.
13 de manhã dia triste porém seco. depois do petit dejeuner café leite, veio a manteiga às oito horas. Fomos na floresta de sapins, lugar admirável. O chão é todo tapeceado de bruyère, hora cor de rosa, hora cor de ouro. O aspecto é imponente e severo. A temperatura é das mais agradaveis. O solo é cortado de pequenos caminhos cheio de encantos. O silêncio é reconfortante. De volta para casa entramos no cemitério, nada de particular. Os túmulos envolvidos pela vegetação. Sentia-se o abandono por falta de braços. A guerra havia tudo requisicionado. Voltamos para casa para almoçar. às 3:30 fiz um estudozinho em aquarela. depois fomos passear com Mme Nampon. As cinco e meia jantamos bem e o dia terminou sem o mínimo incidente.
14, segunda feira
Dia chuvoso, e assim continuou todo o dia. Fui nos sapins a chuva impediu-me de trabalhar. Dia 15 a tarde fomos passear no campo. O dia passou sem novidade.
Dia 16. Sai de Changé as 7h da manhâ. As 7:30 peguei o tramway cheguei a Le Mans as 8h. Poucos momentos antes de chegar à estação, um automóvel cheio de tropa inglesa albarroou o tramway em que eu estava. Um soldado ficou gravemente ferido. Outros contusionados. Os ingleses não são nada sentimentais. Pouco se ocupavam dos companheiros, deixando esse cuidado às pessoas do pais. na estação encontrei a minha bagagem, depois segui pela cidade, indo ai à Catedral. É pena que este edificio não esteja por todos os lados desembaraçado de pequenas construções amesquinhando assim a sua importância. A parte posterior dá sobre uma praça e é a mais importante. lembrando a parte similar de Notre Dame de Paris. O Interior tem uma parte velha. O transcepto muito elegante e elevado. O corpo da igreja propriamente dito é banal. Tem alguns vitraux interessantes de cor, porém monótonos.
23. Fui ao médico levar o Bicho e fiquei de lá voltar para ter noticias à tarde. Entrou-me no atelier 25 sacos de carvão, 15 quilos de Koke, 5 de antracite, e 5 de carvão de terra. A noite jantei com o Costa. Escrevi para o Rio; Brocos, Girardet, Angelo e Eliseu [os dois últimos seus sobrinhos]. As onze e 23 da noite parti de Paris para Changé. Noite fria, cheguei a Ivry-leveque às 8h da manhâ, e à Changé às 8 e meia. depois do almoço fui fazer um estudo de paisagem, uma macieira carregada de frutas. Enquanto trabalhava um paysan intimou-me a seguir para a Mairie. Segui-o, chegamos à praça onde havia o gard-champêtre e um gendarme. Depois de ter-se queixado que eu estava no seu terreno sem ter pedido permissão me tomou por espião. Eu protestei imediatamente. resolvi não mais trabalhar ao ar livre para evitar incômodos. O camponês me disse que se não tivesse lhe obedecido ele me teria estrangulado. Enfim o incidente acabou bem porém se não tivesse tido calma poderia ter acabado pessimamente. Era 3 e meia da tarde.
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