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P560 - “Os deserdados” ou “Garotos da Ladeira”


Assinatura

Procedência

Coleção Otto de Andrade Gil (obra adquirida do próprio artista em 1942)
1986 (jul.) – Leiloada pela Leone Galeria de Arte, Rio de Janeiro
Coleção Hecilda e Sérgio Sahione Fadel

Localização Atual Exposições Individuais Exposições Coletivas Publicações Comentários

É um exuberante ar livre, rico de cor, luz e textura, tendo bem um terço da tela ocupado pelas bananeiras, planta presente em muitas paisagens de Visconti [P553; P566; P558], que sempre procurou, também na arte decorativa, usar espécimes bem brasileiros. Essas bananeiras, atrás de um muro com uma bica d’água, ficavam bem defronte ao portão da casa da família Visconti em Copacabana [P141; P515], na Ladeira dos Tabajaras. A pintura foi apresentada na EGBA de 1928, com o título Os desherdados. Aparece em fotografia do arquivo do Projeto Eliseu Visconti, na parede desta exposição, ao lado das outras pinturas, tendo os títulos das obras de Visconti manuscritos no verso, de acordo com o catálogo da EGBA. O título registrado neste catálogo parece que nunca mais foi usado, sendo substituído por Os garotos da Ladeira, desde pelo menos 1936, quando a obra foi reproduzida na revista Ilustração Brasileira, e ainda integrava a coleção particular do autor. Este novo título, o rico colorido da pintura e também o distanciamento das questões sociais do Rio de Janeiro à época de sua criação, levou diversos comentaristas a confundir esses garotos com uma turma alegre e despreocupada, brincando livre nas ruas, assim como a presença das redes de borboletas parecia reforçar a ideia de folguedos infantis, tema que inspirou Visconti diversas vezes [P910; P146; P405; P428; etc.].
No entanto, no artigo “Os Desherdados de Eliseu Visconti: uma contextualização da iconografia de Garotos da Ladeira (ca. 1928)” publicado na RHAC, em junho de 2023 (cuja capa reproduz esta pintura), Alcimar do Lago Carvalho traz um interessante panorama sobre o comércio de suvenires fabricados com as brilhantes asas das borboletas azuis, praticado por muito tempo, principalmente no Rio de Janeiro. Ele mostra como, à época da criação da pintura, os garotos pobres das periferias eram usados como caçadores de borboletas para alimentar este lucrativo comércio, comprovando assim, que o título original da pintura era bastante pertinente. Carvalho é contundente ao afirmar: “A pintura é de denúncia, sem dúvida! Denúncia da pobreza e das terríveis condições de vida as quais a comunidade local estava sujeita, mas, principalmente da discriminação e da vulnerabilidade social a qual essa primeira geração aculturada de descendentes Tabajaras estava exposta, sagazmente registrada em tela por Visconti”.
Para esta composição, Visconti realizou ao menos dois estudos a óleo [P574; P577], que têm em comum as bananeiras, ocupando metades das pequenas telas, ou mais. Foi reproduzida no artigo “A revolução plástica na arte brasileira”, de Fléxa Ribeiro, que citou Visconti como um pintor que “desde 1900, introduz, entre nós, as manifestações impressionistas”. Para M. Izabel B. Ribeiro, “Garotos da Ladeira traz o tema da simplicidade do cotidiano e da vizinhança. O cenário é um muro velho, a rusticidade do fundo de um quintal repleto de bananeiras, a reunião de crianças dispostas a caçar borboletas – talvez os mesmos garotos que foram representados a caminho da escola. Não são retratos. São registros cromáticos rápidos de seus corpos, rostos e trajes. Nem as bananeiras são árvores ou esboços de paisagem, mas manchas de tons verdes distribuídas com cuidado”. Em 2020, parte da pintura é reproduzida na capa da publicação digital Globalizing Impressionism.


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