Visconti Designer – Selos Postais

A REPÚBLICA - ESTUDO PARA SELO INTEGRANTE DA COLEÇÃO VENCEDORA DO CONCURSO DOS CORREIOS DE 1904 - NANQUIM E GUACHE/PAPEL - 28 x 23 cm - c.1903 - COLEÇÃO PARTICULAR
A REPÚBLICA – ESTUDO PARA SELO – c.1903

O selo postal, juntamente com o cartaz comercial, é uma das categorias de produto gráfico surgida a reboque das transformações geradas pelo acelerado processo de industrialização na Europa ocidental. Trata-se de produto gráfico industrial por excelência, produzido em grande escala por meios mecânicos de impressão e cuja função pressupõe a transmissão de forma clara e objetiva de informações relativas ao valor e à procedência do impresso. O Brasil foi o segundo país do mundo a adotar selos postais, dois anos depois da introdução do Penny Black na Inglaterra em 1840.

Os primeiros selos emitidos após a proclamação da República apresentavam uma representação de “Marianne”, uma alegoria à liberdade e à república originária da Revolução Francesa, e que é caracterizada pelo busto de uma figura feminina cuja cabeça é adornada por um barrete frígio.[1] Versões aperfeiçoadas da “Marianne Tropical” foram emitidas em 1893, 1894 e 1900, e estes selos apresentavam um design extremamente rebuscado, repleto de ornamentos de inspiração historicista.

Eliseu Visconti também se dedicou ao projeto dessa nova categoria de impressos, e em 1903 apresentaria uma série de 16 estudos de selos postais para o concurso proposto pelos Correios do Brasil. Ele foi o grande vencedor do concurso, mas seus projetos não foram colocados em circulação. Naquele momento, a Casa da Moeda enfrentava uma série de dificuldades para imprimir os selos brasileiros, especialmente no que se refere às injunções políticas, mas a empresa também recebia pesadas críticas dos correios por conta da má qualidade de impressão dos selos. Esses problemas levaram o governo brasileiro a encomendar selos postais nos Estados Unidos, ficando a American Bank Note Company encarregada de sua produção. Cabe comentar que tal decisão pode ter sido determinante para a não aceitação dos projetos de Visconti, embora também se mencione a oposição do então ministro de Viação e Obras Públicas, Lauro Müller. De qualquer maneira, desferiu-se um duro golpe no design gráfico brasileiro, que já demonstrava ter condições de dominar o ciclo de criação e produção industrial de selos postais. O aspecto mais cruel da não aceitação dos estudos de Visconti está no fato de que os selos postais emitidos logo depois insistiam em soluções gráficas antiquadas.

Frederico Barata chamou a atenção para a grande receptividade aos estudos de selos postais de Visconti no exterior:

Toda a imprensa na Europa e na América festejou, entretanto, os novos modelos dos selos brasileiros, felicitando o governo por ter sabido incumbir um verdadeiro artista na execução dos desenhos. L’IlLustration, de Paris, chegou a reproduzir todos os projetos de Eliseu Visconti com os mais lisonjeiros comentários.[2]

A primeira série de selos de Visconti guarda semelhanças com estudos de selos postais realizados por Eugène Grasset em 1895. O tratamento é essencialmente monocromático, uma exigência decorrente das tecnologias de impressão então disponíveis, que Visconti e Grasset rapidamente souberam compreender. No estudo de selo dedicado à República, Visconti introduz sua própria interpretação de figura feminina para representar a instituição republicana, modificando o barrete da típica “Marianne” vista nos estudos de Grasset. A figura feminina de Visconti é destacada do fundo através de um arco que lhe serve de moldura e, ao mesmo tempo, serve de suporte para a frase “República do Brasil”. Esta solução pode ter sido uma herança de peças gráficas comerciais realizadas por Alphonse Mucha.

A AERONÁUTICA - PROJETO PARA SELO INTEGRANTE DA COLEÇÃO VENCEDORA DO CONCURSO DOS CORREIOS DE 1904 - NANQUIM E GUACHE/PAPEL - c.1903 - LOCALIZAÇÃO DESCONHECIDA
A AERONÁUTICA – PROJETO FINAL PARA SELO – c.1903

Um dos mais fascinantes estudos de selo postal realizados por Visconti era aquele em que homenageava “A Aeronáutica”. Tinha como figura temática principal o dirigível nº 5 com o qual Alberto Santos Dumont conquistou o prêmio de 100 mil francos, oferecido por Henri Deutsch de la Meurthe ao primeiro aeronauta que decolasse do Parque Saint Cloud, contornasse a Torre Eiffel e retornasse ao ponto de partida em no máximo 30 minutos. Santos Dumont realizou a façanha em 19 de Outubro de 1901 e Visconti já havia homenageado o inventor brasileiro por este feito em um cartaz denominado O Beijo da Glória a Santos Dumont.

Também em 1903 Visconti elaborou uma série de estudos para cartas-bilhete, impressos semelhantes a cartões-postais. Os estudos de Visconti apresentavam uma ilustração sob forma de cabeçalho em que se destacava a figura feminina representando a República, e uma das versões reunia as figuras do almirante Tamandaré, de José Bonifácio e do duque de Caxias. Ao fundo, é possível perceber o contorno do Pão de Açúcar. Nesse estudo se faz presente um interessante experimento tipográfico realizado no título “Carta- Bilhete”. Eliseu Visconti desenhou os caracteres em estilo art nouveau, modificando as proporções de algumas letras de modo a criar um desenho diferenciado, um logotipo, a ser aplicado em toda série. Ao estender a haste vertical dos “Ts” ele permite que as letras adjacentes fiquem, por assim dizer, abrigadas, sob a haste horizontal. Um recurso semelhante foi utilizado de modo a criar um encaixe entre as letras “L” e “H”, e o efeito, em conjunto com o desenho especial da fonte tipográfica, produz um resultado extremamente original. A experimentação tipográfica também estava presente no desenho dos numerais que indicavam o valor de 200 Réis. Visconti propõe a interseção dos dois “zeros”, e assim acrescenta mais uma solução original a um impresso destinado à produção massificada.

SELO COMEMORATIVO DO 1º CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA - 100 RÉIS - ESTUDO PARA SELO - NANQUIM E GUACHE/PAPEL - 43 x 55 cm - 1922 - COLEÇÃO PARTICULAR
SELO COMEMORATIVO DO 1º CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA – 100 RÉIS – ESTUDO – 1922

A segunda série de estudos de selos postais realizados por Visconti data de 1921 e tinha como tema a comemoração do Centenário da Independência. Esta série apresenta originais soluções gráficas, como às três composições diferentes para o título “1º Centenário da Independência do Brasil” e a interseção de algarismos no espaço reservado aos valores, um experimento tipográfico utilizado anteriormente nos estudos de cartas- bilhete. A série foi projetada em resposta ao concurso proposto pelos correios, mas os selos não foram colocados em circulação.

A comparação com os selos emitidos pelos correios na mesma ocasião põe em evidência o contraste entre a qualidade gráfica dos estudos de Visconti e a visão retrógrada que pautava o processo de criação de selos postais no Brasil naquela época.

 

NOTAS:

[1] Referente à região da Frígia colonizada pela Grécia aonde os escravos libertos utilizavam o mesmo tipo de gorro.

[2] Frederico Barata, Eliseu Visconti e Seu Tempo. Rio de Janeiro: Editora Zelio Valverde, 1944, p. 164.

O COMÉRCIO - ESTUDO PARA SELO INTEGRANTE DA COLEÇÃO VENCEDORA DO CONCURSO DOS CORREIOS DE 1904 - GRAFITE/PAPEL - 19 x 24 cm - c.1903 - COLEÇÃO PARTICULAR
O COMÉRCIO – ESTUDO PARA SELO – c.1903
SELO OFICIAL A UNIÃO - ESTUDO NÃO UTILIZADO - CARVÃO/PAPEL - 29 x 23 cm - c.1903 - COLEÇÃO PARTICULAR
SELO OFICIAL A UNIÃO – ESTUDO NÃO UTILIZADO – c.1903
SELO OFICIAL A UNIÃO - ESTUDO PARA SELO INTEGRANTE DA COLEÇÃO VENCEDORA DO CONCURSO DOS CORREIOS DE 1904 - CARVÃO/PAPEL - 29 x 23 cm - c.1903 - COLEÇÃO PARTICULAR
SELO OFICIAL A UNIÃO – ESTUDO FINAL – c.1903
AS ARTES - PROJETO PARA SELO INTEGRANTE DA COLEÇÃO VENCEDORA DO CONCURSO DOS CORREIOS DE 1904 - NANQUIM E GUACHE/PAPEL - c.1903 - LOCALIZAÇÃO DESCONHECIDA
AS ARTES – PROJETO PARA SELO – c.1903
CARTA-BILHETE PARA O INTERIOR - FUNDAÇÃO DA NACIONALIDADE BRASILEIRA - PROJETO PARA CARTA-BILHETE INTEGRANTE DA COLEÇÃO VENCEDORA DO CONCURSO DOS CORREIOS DE 1904 - NANQUIM E GRAFITE/PAPEL - 1903 - LOCALIZAÇÃO DESCONHECIDA
CARTA-BILHETE PARA O INTERIOR – 1903
SELO COMEMORATIVO DO 1º CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA - 150 RÉIS - ESTUDO PARA SELO - NANQUIM E GUACHE/PAPEL - 27,0 x 41,5 cm - 1922 - COLEÇÃO PARTICULAR
SELO COMEMORATIVO DO 1º CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA – 150 RÉIS – ESTUDO – 1922
SELO COMEMORATIVO DO 1º CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA - 200 RÉIS - ESTUDO PARA SELO - NANQUIM E GUACHE/PAPEL - 24,0 x 39,5 cm - 1922 - COLEÇÃO PARTICULAR
SELO COMEMORATIVO DO 1º CENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA – 200 RÉIS – ESTUDO – 1922