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P736 - Decoração das arcadas da sala de espetáculos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro – Painel 2


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Visconti no atelier da Rue Didot, com os painéis do foyer e as pinturas desaparecidas (ao alto e à direita) que seriam para as arcadas da sala de espetáculos do Theatro – 1915
Visconti no atelier da Rue Didot, com os painéis do foyer e as pinturas desaparecidas (ao alto e à direita) que seriam para as arcadas da sala de espetáculos do Theatro – 1915
Foto da sala de espetáculos original do Theatro, onde se vê as arcadas que seriam suprimidas na reforma de 1934
Foto da sala de espetáculos original do Theatro, onde se vê as arcadas que seriam suprimidas na reforma de 1934

Inaugurado o Theatro Municipal em 14 de julho de 1909, somente ao final de 1912 é aberto concurso para as decorações internas do foyer. Concorrem Eliseu Visconti e Rodolpho Amoedo, este com três estudos hoje pertencentes ao Museu Nacional de Belas Artes. Visconti apresenta um estudo a óleo [P704] (acervo do Centro de Documentação da Fundação Theatro Municipal do Rio de Janeiro) e é selecionado “dada a superioridade da concepção do conjunto.”
Na carta-contrato de 13 de fevereiro de 1913 [CR1913], o engenheiro Francisco Oliveira Passos, Diretor Geral do Theatro Municipal, comunica a Visconti que o prefeito Bento Ribeiro aceitara a proposta do artista para a execução das decorações do teto, tímpanos e medalhões sobre as portas, todas no foyer, e também da decoração da arcada da sala de espetáculos. Ao examinar essa carta do arquivo do Museu Nacional de Belas Artes, o Projeto Eliseu Visconti levantou pela primeira vez a hipótese de que Visconti havia executado entre 1913 e 1915, além dos painéis do foyer, decorações para as arcadas da sala de espetáculos, o que não se sabia até recentemente. Essa suspeita foi reforçada quando foi examinada com detalhes a foto de Visconti na qual o artista está sentado frente aos trabalhos do foyer. Nesta foto aparecem alguns painéis não identificados, decorados com flores. Depreendeu-se então que esses painéis decorariam as arcadas junto ao teto do Theatro, situadas em plano equivalente ao da atual galeria. Na grande reforma de 1934, as arcadas foram suprimidas para aumentar a capacidade da sala de espetáculos e os painéis de Visconti teriam sido destruídos.
Essas suspeitas, já mencionadas no livro oficial do artista publicado em 2012, foram confirmadas por novas pesquisas em jornais da época realizadas em 2019. Essas pesquisas identificaram nas edições de 29 de março e de 4 de abril de 1916 do Jornal do Commercio notícias confirmando que esses painéis com flores foram efetivamente colocados nas arcadas que decoravam a sala de espetáculos do Theatro antes da reforma de 1934, em posição onde hoje se encontram as galerias. Na notícia de 29 de março, intitulada “Cousas de Arte”, comenta-se sobre a visita que teria sido feita ao Theatro para apreciar as obras realizadas em Paris por Visconti: “As rodas artísticas acabam de ter uma agradável emoção, vendo os últimos trabalhos de Visconti para o Municipal.
O apreciado pintor concluiu a colocação dos painéis que foi executar em Paris para a nossa principal sala de espetáculos…”
E, após informações sobre os trabalhos de Visconti em Paris, a matéria no jornal prossegue:
“Em primeiro lugar foram vistos os motivos decorativos da frisa que circunda a platéia e fica acima das galerias. São telas com figuras sobraçando flores. De acordo com a arquitetura da sala, os painéis apresentam-se numa escala descendente, partindo do proscênio para o fundo. A execução é de uma grande delicadeza. O artista buscou um colorido suave em harmonia com o teto, mantendo a nota clara e alegre do recinto, mas de modo muito discreto.Esse trabalho é bem uma continuação do plafond, também executado por Visconti.
As cores vão se rebatendo numa proporcionalidade quase imperceptível para chegar a um acabamento natural, sem que o espírito se aperceba da mais leve solução de continuidade. E tão hábil é esse trabalho, tão em harmonia foi ele feito com o plafond, a ponto de parecerem executados ao mesmo tempo, embora entre um e outro medrassem alguns pares de anos. O fecho, isto é, o remate dessa cadeia de telas, feito com as iniciais – T. M. – entrelaçados, é que não nos pareceu muito feliz.”
A partir daí, a matéria passa a discorrer sobre as pinturas do foyer.
O texto do Jornal do Commercio de 29 de março de 1916 mostra portanto claramente que Visconti executou entre 1913 e 1915 novas pinturas para a sala de espetáculos, contrariando a história recente de que todas as pinturas da sala de espetáculos teriam sido executadas entre 1905 e 1907, junto com o pano de boca. O mesmo texto mostra que a frisa que circundava a platéia e ficava acima das galerias foi decorada com telas sobraçando flores, o que explica as telas com flores na fotografia acima, que apresenta Visconti com os trabalhos concluídos em 1915/1916.
Cinco dias depois, em 4 de abril de 1916, o mesmo Jornal do Commercio noticia: “Acham-se quase ultimados os trabalhos de assentamento das decorações das duas rotundas de 1ª ordem, a cargo do artista Rodolpho Amoedo, e das frisas do teto da sala de espetáculos e do teto do foyer, a cargo do artista Eliseu Visconti.”
Permanece somente a dúvida sobre o destino dado a esses painéis na reforma de 1934, que suprimiu as arcadas da sala de espetáculos do Theatro Municipal.
A obra aqui comentada – Painel 2 – tem como única imagem disponível a que aparece na mencionada foto de Visconti. Suas dimensões foram estimadas a partir das dimensões dos painéis laterais do foyer, que também são mostrados na foto. Aparecem na mesma foto mais duas obras, o Painel 1 [P735] e o Painel 3 [P737], também executadas para a sala de espetáculos do Theatro.
A observação detalhada da imagem do Painel 2 permitiu que fosse identificada a pintura decorativa onde Visconti utilizou o estudo [D769], executado na mesma época das decorações do foyer, mas que não figurava nessas decorações. Neste Painel 2 aparecem entre as flores as figuras femininas desse estudo. São algumas das figuras sobraçando flores mencionadas na matéria do Jornal do Commercio.


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