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P315 - “As duas irmãs” ou “No verão”


Assinatura

Inscrições

A localidade "Paris" e a data "1894", logo abaixo da assinatura.

Procedência

1937 – Transferida da Pinacoteca da ENBA para o recém-criado MNBA.

Localização Atual Exposições Individuais Exposições Coletivas Publicações Comentários

Duas meninas nuas numa cama – um tema ousado e inusitado para o final do século XIX, tratado pelo artista com sensibilidade e sem exposição acintosa, faz dessa pintura uma obra pioneira, porém perfeitamente sintonizada com a cultura do seu tempo. Num caderno de desenhos de Visconti, de coleção particular, aparecem três esboços preliminares para esta pintura [CD00], nos quais as duas garotas estão em posições diversas. Há também um estudo pintado a óleo da cabeça da menina que olha por cima da grade, mostrando uma direção diferente para o seu olhar [P351]. Foi apresentada na Exposição Individual de 1901, na ENBA, sob o nº 32 em seu catálogo, com o título As duas irmãs e a especificação “Trabalho de pensionista”; mas no Catálogo Geral das Galerias de Pintura e de Escultura da ENBA, de 1923, foi designada apenas como Estudo de nu, o que pode ser verificado pelas dimensões apontadas. Em algum momento depois desta publicação, provavelmente, porque suas qualidades observadas por tantos comentaristas – composição bem elaborada; escorço admirável; ângulo singular; leveza do colorido; sutileza da cena; jogo dos contrastes; profundidade das expressões e sensualidade inquietante – não se conformaram à designação tão redutora que lhe foi dada, teve seu título trocado com a pintura No verão. Esta última, representando uma menina nua com uma ventarola, sobre a mesma cama [P312], havia recebido a medalha de 2ª classe [PR1894] na 1ª EGBA, em 1894, e um pouco antes participado do Salon de Paris; o que foi por muito tempo computado para a pintura das duas meninas na cama, pois a troca de títulos só foi percebida em 2009, a partir de uma pequena descrição da tela medalhada, publicada no jornal Gazeta de noticias (1° nov. 1894).

Uma anotação feita junto ao esboço desenhado do Nu feminino [P318] em um bloquinho de notas [CD004], informa que: “Este foi trocado pelas duas meninas na cama”. Acrescida da designação “Trabalho de pensionista” junto ao título As duas irmãs no catálogo da exposição de 1901, pode-se concluir que o Nu feminino seria um dos envios obrigatórios para os pensionistas em seu segundo ano de estágio, mas Visconti resolveu trocá-lo pela pintura das duas meninas. Realmente, numa carta de Visconti comunicando o envios dos trabalhos de seu segundo ano de pensionista [CR1895E], datada de 3 de julho de 1895, consta da lista uma pintura intitulada “Duas meninas deitadas”. E foi assim que esta passou a pertencer à Pinacoteca da ENBA com a designação Estudo de nu e, provavelmente, quando da divisão do acervo por ocasião da criação do Museu Nacional de Belas Artes, em 1937, foi destinada a este, com o título No verão, pois não se tratava apenas de uma academia, como os outros envios de pensionista e, certamente, alguém julgou que havia ali um engano.

Essa carta, comunicando os envios de pensionista do segundo ano, e mais outra de mesma data [CR1895F] comunicando envio de obras de propriedade do autor para a EGBA, comprovam a participação desta pintura na 3ª EGBA, em 1896, com o título equivocado de “Dois meninos  em repouso”, pois nenhuma outra das sete pinturas listadas por Visconti na primeira carta e das três na segunda poderia corresponder a este título. Esta pintura participou da Retrospectiva de 1949, com o título No verão; foi reproduzida na História da Pintura no Brasil, de Reis Jr., 1944, com esse mesmo título; na biografia de Barata, do mesmo ano, p. 39, como As duas irmãs; e no Dicionário dos Pintores do Brasil, 1988, como As duas meninas. Em suas demais reproduções, foi sempre registrada como No verão, com especial interesse para as seguintes: na quarta capa de uma História em quadrinhos – Epopéia (set. 1953), o que rendeu várias cartas de protesto enviadas aos seus editores; no Dicionário Crítico da Pintura no Brasil, 1988, p. 529, e mencionada em verbete especial na p. 520; numa publicação estrangeira – Idols of perversity, 1986; na capa do catálogo O desejo na Academia, 1991, o que lhe trouxe notoriedade e acusações infundadas para seu autor. Foi tema de dissertação de mestrado defendida na Unicamp, em 2003, e do livro publicado em 2008: Eros adolescente, No verão de Eliseu Visconti.


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