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P103 - Minha família (A rosa)


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Coleção Benjamim de Mendonça
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Sempre muito discreto, Visconti guardara segredo, aqui no Brasil, sobre a existência de sua companheira e filha em Paris, como se pode concluir de carta escrita ao amigo Gonzaga Duque, em 23 de novembro de 1908, comunicando sua partida para Europa nos próximos dias e explicando o motivo de sua viagem: “Sou levado a esta resolução por motivo de meu sobrinho para collocal-o definitivamente”. Na verdade, depois de criar condições dignas para elas viverem no Brasil, empreendeu a viagem, talvez sem a certeza de que elas viriam. Porém, após concretizar na França o casamento, em 14 de janeiro de 1909, o pintor traz sua família para o Rio de Janeiro, chegando no final de fevereiro. Então trata de apresentá-las à sociedade brasileira, na linguagem que lhe é própria: na EGBA de 1909, exibe esse belo retrato das duas, com o título que valia por uma declaração. Existem pelo menos duas fotografias da família Visconti em seu atelier, ao lado desta obra, uma delas com a presença do pintor, provavelmente para registrar a sua conclusão. Dois retratos pintados por Visconti nesta época, certamente, serviram como estudos para essa obra [P113, P130].

A pintura foi recebida em 1909 com surpresa e admiração. O Jornal do Brasil (5 set.), que reproduziu uma caricatura do quadro, com a legenda “… pintada a confetti”, publicou num ensaio sobre a exposição: “um quadro de estylo Minha familia, de composição exotica, mostrando a segura technica dos tons e a segurança do colorido, predicados triviaes no seu temperamento de artista. […] é de uma feição propria, que indica um caracter pessoal do pincel e torna o artista vencedor na conquista dos effeitos e das tonalidades”. Segundo o Jornal do Commercio (7 set.): “A factura é ‘uma novidade’ só estranhavel para quem não souber que o Sr. Visconti não cessa de estudar, de investigar, de variar […] O effeito primordial da factura adoptada pelo pintor é o da rutilancia ambiente; ha alli uma irradiação; e a luz que envolve as duas figuras do quadro, parece ao mesmo tempo sahir dellas, sobretudo da criança formosissima que o Sr. Visconti deve adorar duas vezes, como pai e como artista”. Visconti aplicara no fundo deste retrato a mesma técnica usada nos painéis do teto da sala de espetáculos do Teatro Municipal, recém inaugurado.

Na Sala Especial da II Bienal de São Paulo, foi exposta com o título A rosa. Numa crítica à exposição Os Precursores, publicada em outubro de 1974, Gilda de Mello e Souza escreve sobre essa pintura: “quadro muito bonito que, à primeira vista, surpreende pela virtuosidade. O tratamento das vestimentas, a colocação admirável das figuras no espaço, sobretudo a frontalidade da menina, lembram demais Renoir. No entanto, se atentarmos bem para a fatura, percebemos que a realização do rosto não é impressionista. O modelado se prende antes aos ensinamentos da Academia, é unido, esmaltado, obtido através das gradações sutilíssimas do rosa. Eliseu não usou a pincelada partida, nem decompôs as cores, opondo as complementares; pintou segundo as regras tradicionais, limitando-se a estender por cima da tela já trabalhada, uma poalha de pontos coloridos, numa técnica que seria antes de Seurat.”


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