CR1896E - Carta de Carlos Américo dos Santos a Eliseu Visconti, prometendo esforços para conseguir recursos para a tela “Saída da vida pecaminosa” – 25 de junho de 1896

  • Tipo de Documento Correspondências - Até 1900
  • Ano 1896
  • Acervo Projeto Eliseu Visconti

Para os que seriam os dois últimos anos de seus estudos na Europa, deveria Visconti executar uma tela de 24 m² intitulada “Saída da Vida Pecaminosa”, tema extraído da Divina Comédia, de Dante. Chegou a executar um estudo de dimensões menores sobre o tema [P985] e submeter o orçamento de doze mil francos para cobrir as despesas materiais com a obra. No entanto, a ajuda financeira para executar o grande quadro, apesar de autorizada pelos professores da Escola Nacional de Belas Artes, foi vetada. Nesta carta, o jornalista e crítico de arte Carlos Américo dos Santos, após solicitar que Visconti comentasse sobre os trabalhos que o artista apresentara no Salon des Champs-Elysées, assegura que fará esforços para conseguir a verba necessária para execução da grande tela, prometendo gestões junto à Secretaria do Interior e até junto ao gabinete do Presidente da República. E o entusiasmo do jornalista com o projeto de Visconti para execução da obra vai além, ao dizer que, caso o Governo não libere a verba,  seria feita uma coleta de recursos junto a amigos, dentre os quais cita José Vieitas. Esta iniciativa também não teria dado resultados, pois a obra nunca foi realizada. A seguir a transcrição completa da carta.

Rio, 25 de junho de 1896

Meu distinto amigo.
Recebi a sua estimada carta de 25 de maio, e agradeço-lhe os jornais que falavam das exposições, havendo já adivinhado que tão agradável remessa partira de Você. Senti, porém,
que me não falasse mais detalhadamente dos seus trabalhos que se acham no Salão dos Campos Elysios; compreendo que me seria agradável publicar, e ao público também, uma notícia circunstanciada dos quadros do único artista brasileiro que este ano penetrou no Salão.
Logo que recebi a sua carta, escrevi a notícia do quadro que pretende pintar, e cujo retalho aqui incluo. Ainda não vi o esboço, mas logo que o fizer, direi mais alguma coisa. Falei também ao Rodrigues Barboza, diretor da Secretaria do Interior, que terá de dar parecer sobre o seu projeto, o qual já me prometeu fazer o que puder para que ele seja aprovado e a sua pretensão atendida. Falarei também com o Dr. Carlos Borges Monteiro, secretário, e Feliciano Gonzaga, oficial do Gabinete do Presidente da República, que são meus amigos, para que eles também favoreçam o seu projeto.
Caso, porém, não queira o Governo lhe dar o auxílio necessário, escreva-me dizendo qual a soma precisa, para ver se podemos reuni-la entre alguns amigos daqui e remetê-la, a fim de que não deixe de executar uma que possa honrar na Europa o nome brasileiro e vir para cá para atestar o seu progresso. Falei neste sentido ao Sr. José Vieitas, sócio da conhecida casa Vieitas…. daqui, que me pediu o seu endereço e vai lhe escrever no mesmo sentido.
Não deixe de mandar os seus quadros para a Exposição deste ano; a do ano passado foi bastante pobre e sofreu muito com a ausência dos seus trabalhos e os de Oscar Pereira da Silva.
O Belmiro partiu há pouco para Paris para ai passar dois anos, ele é muito meu íntimo e estimará que também o seja do meu amigo.
Escrevo-lhe para a posta? restante de Madrid.
Seu amigo e admirador dedicado.
Carlos Américo dos Santos.