CR1907 - Carta criticando negros no Pano de Boca – 22 de julho de 1907

  • Tipo de Documento Correspondências - De 1901 a 1920
  • Ano 1907
  • Acervo Projeto Eliseu Visconti

CARTA CRITICANDO NEGROS NO PANO DE BOCA - 1907 - PÁGINA 2
CARTA CRITICANDO NEGROS NO PANO DE BOCA – 1907 – PÁGINA 2

Ao concluir os trabalhos da sala de espetáculos do Theatro Municipal, Visconti realizou uma exposição em seu ateliê, em Paris, entre 20 e 28 de julho de 1907. Compareceram à abertura da exposição cerca de trezentas pessoas. Lá estiveram o ex-Presidente Rodrigues Alves, além de diversas personalidades brasileiras que se encontravam em Paris. Do mundo artístico, prestigiaram a mostra Helios Seelinger, Eduardo de Sá, Pedro Alexandrino e Rodolfo Chambelland. Visconti recebe com satisfação os elogios da crítica francesa, mas, antes de embarcar para o Brasil com seus trabalhos, sabe que sua obra sofreu pesadas críticas publicadas na imprensa do Rio de Janeiro, estimuladas por alguns brasileiros residentes em Paris, insatisfeitos com o que haviam visto no pano de boca: três figuras de negros participando da massa de populares que exaltam o grande cortejo histórico.
Um dos visitantes da exposição, que assina “Nunes”, encaminha seu protesto nesta carta transcrita a seguir, endereçada diretamente a Visconti, com certeza por conhecê-lo. 

Paris, 22 de julho de 1907.
Ilmo Señ Visconti,
Acudindo ao seu convite fomos, como outros brasileiros, visitar o seu atelier e admirar o producto de seu talento e esforço artistico.
Só temos palavras de [?] a dirigir-lhe, mas, a todos, estamos certos, impressionou tristemente aquella exhibição de negros e bananas, mais um alvo para as chacótas e troças dos estrangeiros que nos frequentam.
Não ha muito, o Figaro publicou um supplemento sobre o Brasil, aliás muito bonito, e estampou como primeira vista a de [?] primeira escola de vapores francezes. Tanto bastou para a critica, e sabemos que o Señ Ministro dos Estrangeiros mandou fazer nova edição substituindo aquella vista pela de [?].
Estamos certos que a imprensa e os criticos e todos no Rio vam notar este senão em sua obra. Porque não evitar isto? Si é tempo supprima aquelle grupo ou substitua-o.
É um aviso de quem deseja poupar-lhe desgostos.
Seu alto criado [?]
Nunes