Theatro Municipal – Plafond

PLAFOND DO THEATRO MUNICIPAL DO RIO
PLAFOND DO THEATRO MUNICIPAL DO RIO

Se no pano de boca o tema exigiu de Eliseu Visconti fatura mais linear, observando-se características impressionistas apenas ao fundo da composição, a execução da decoração do plafond (teto) sobre a platéia leva o artista a exibir procedimento pontilhista, ao lado de um sinuoso e elegante linearismo botticelliano. O artista sentiu-se mais liberto para adotar a técnica que observara e admirara nas decorações que Henri Martin realizou para o Capitólio de Toulouse, expostas em 1906 no Salon des Artistes Français, na capital francesa. Visconti, ao estudar as decorações de Martin, preparava-se para o grande desafio, o que provam as inúmeras observações que fez em seu caderno de notas.[1]

Na decoração do plafond, denominada por Visconti de A Dança das Horas, o estilo pontilhista que usou é de grandiosa execução e a concepção artística sumamente feliz. Nessa composição, os personagens dançam interligados, ao passar dos dias e das noites, em eterno movimento, lembrando “a ronda dos destinos humanos”. As horas correspondentes aos dias estão representadas em cores claras, e as das noites, em cores de leve penumbra.[2]

PLAFOND E PROSCÊNIO
PLAFOND E PROSCÊNIO

No plafond Eliseu Visconti não nos quis instruir nem contar uma história, como no pano de boca, mas simplesmente executar uma pintura decorativa para o deleite e a alegria dos olhos. A cor clara e harmoniosa, aplicada em pequenos toques, é um dos elementos fundamentais dessa decoração. E é o próprio Visconti quem define o plafond como um poema de alegria e luz.[3]

A pintura do plafond, de formato oval, cujo eixo maior externo tem quase quinze metros de comprimento, foi executada em oito seções que deveriam ser dimensionadas para se encaixarem perfeitamente. O alemão Stalembrecher auxiliou Visconti, executando os cálculos matemáticos necessários. Esses cálculos seriam refeitos durante o desenvolvimento dos trabalhos, pois o projeto de arquitetura da cúpula foi alterado com a obra já em andamento, causando aborrecimentos a Visconti e levando-o a se dirigir ao Engº Francisco Oliveira Passos em tom áspero, em carta de 31 de agosto de 1906:

“… O Doutor havia me prometido mandar as seções e modificação da frisa, infelizmente nada! Toda essa demora me causa incalculável prejuízo. Eu não posso me responsabilizar pelo bom êxito da colocação do plafond, uma vez que este não seja construído de acordo com as dimensões que o Doutor me fornecer… Tudo quanto tenho feito desde que aqui cheguei para o cumprimento do contrato, eu posso prová-lo, se o Doutor quiser, e desse modo avaliará os prejuízos que as suas modificações me causaram.”

Mas Visconti abrandava o tom ao final das cartas, subscrevendo-se muito amigo e grato. E acabou por obter a prorrogação do prazo para a entrega dos trabalhos do plafond e do friso sobre o proscênio. O que tranqüilizou o artista e permitiu que essas decorações fossem entregues na mesma data que o pano de boca. Em 03 de janeiro de 1907, Visconti agradece a Oliveira Passos:

Tenho em meu poder a sua carta de 11 de dezembro do ano passado, e agradeço-lhe a prorrogação do prazo até data de 9 setembro de 1907, ela me permitirá mais calma na execução de meus trabalhos.

A colocação dos painéis do plafond foi executada entre 27 de janeiro e 3 de fevereiro de 1908 pela técnica do marouflage, que possibilitava a execução das pinturas decorativas sobre telas para, posteriormente, serem coladas sobre as paredes às quais se destinavam. À exceção do pano de boca, todas as pinturas de Visconti no Theatro foram colocadas seguindo a mesma técnica.

 

NOTAS:

[1] CAVALCANTI, Ana M. T. Os artistas brasileiros e os prêmios de viagem à Europa no final do século XIX: visão de conjunto e um estudo aprofundado sobre o pintor Eliseu D’Angelo Visconti (1866–1944). Tese de Doutorado – Université Paris – U.F.R. D’Histoire de I’Art et Archeologie, Panthéon Sorbonne – Paris, 1999.

[2] FRANCISCO, Nagib. Vida e obra de Eliseu D’Angelo Visconti: 1866-1944. 2014, p. 29.

[3] CAVALCANTI, 1999.

 

A DANÇA DAS HORAS - PLAFOND (TETO) SOBRE A PLATÉIA DO THEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO - ÓLEO SOBRE TELA DE LONA - EIXO MAIOR EXTERNO DE 14,6 m - 1908
A DANÇA DAS HORAS – PLAFOND (TETO) SOBRE A PLATÉIA DO THEATRO MUNICIPAL
A DANÇA DAS HORAS - ESTUDO PARA O TETO/PLAFOND DO THEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO - CARVÃO SOBRE PAPEL - 53 x 79 cm - 1906 - CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DA FUNDAÇÃO TEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
A DANÇA DAS HORAS – ESTUDO PARA O TETO/PLAFOND DO THEATRO MUNICIPAL
A DANÇA DAS HORAS - PLAFOND - DETALHE
A DANÇA DAS HORAS – PLAFOND – DETALHE
A DANÇA DAS HORAS - ESTUDO PARA O TETO/PLAFOND DO THEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO - CARVÃO SOBRE PAPEL - 53 x 79 cm - 1907 - CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO DA FUNDAÇÃO TEATRO MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO
A DANÇA DAS HORAS – ESTUDO PARA O TETO/PLAFOND DO THEATRO MUNICIPAL
A DANÇA DAS HORAS - PLAFOND - DETALHE
A DANÇA DAS HORAS – PLAFOND – DETALHE