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P416 - Moça no trigal


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Coleção Raphael Parisi

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Neste quarto período de sua carreira, Visconti quase nunca datou suas obras. Porém, é mais provável que o pintor tenha se dedicado às suas composições de maior fôlego de retorno à França, após ter viajado para o Rio de Janeiro, a fim de entregar e instalar seus painéis decorativos para o foyer do Theatro Municipal. Tendo chegado de volta a Paris em 24 de abril de 1916, para se reencontrar com sua família depois de enfrentar o grande perigo que a travessia do Oceano Atlântico representava em plena Primeira Guerra Mundial, desincumbido da grande tarefa, Visconti tinha agora bastante tempo para criar livremente. Ele fez uma série de estudos [P479; P436; P442; P446] da paisagem de um campo de trigo em Saint Hubert, preparando-se para esta composição, que se tornou uma das mais apreciadas de suas criações. Sua filha Yvonne, então com cerca de 15 anos, provavelmente serviu de modelo para a jovem que colhe as flores. Outra pequena paisagem [P691] representa o mesmo campo de trigo de um ponto de vista mais afastado, na qual podem-se ver, ao fundo, carroças puxadas por bois que representariam prisioneiros alemães na colheita do trigo, ao final da guerra.

Uma tela [P689] com dimensões bastante similares às da série de estudos, é datada, porém, da época da chegada da família Visconti à França, tendo ele já a incumbência de realizar as decorações para o Theatro, e poderia ser considerada a inspiração original para Moça no trigal. Retratando também um campo de trigo, ela apresenta duas importantes diferenças em relação às quatro da série de estudos. Nesta não se veem as árvores que, na linha do horizonte, destacam-se contra o céu azul ou nublado naquelas outras. Neste sentido, ela se assemelha mais à composição maior, que contrasta o dourado do trigal à massa escura do arvoredo ao fundo, e nos deixa perceber apenas pequenos trechos de céu. Outra diferença entre esta pintura e as da série de estudos é a presença de duas figurinhas em meio ao campo, ao fundo e à esquerda, o que também a aproxima mais de Moça no trigal, que as apresenta do lado oposto. Estes detalhes nos levam a crer que esta pequena tela, provavelmente a princípio um registro despretensioso, realizado numa visita de Visconti à sua sogra, teria dado a ele a ideia para a sua composição maior, realizada anos depois.

Originalmente, esta pintura foi intitulada Pão e flores, durante a individual da Galeria Jorge, em 1920, de acordo com sua reprodução na Revista da Semana, e foi adquirida, segundo O Jornal, de 6 de agosto, que não informou o nome do comprador.  Na ocasião da exposição “Os Precursores”, Gilda de Mello e Souza julgou a pintura encantadora, e acrescentou: “As duas figurinhas, que aparecem à direita e no alto, são quase uma citação das meninas mergulhadas no capim, que Renoir representou em Chemin montant dans les hautes herbes. Mas o recolhimento da figura, a delicadeza etérea das pinceladas longas nas hastes do trigo, o ramalhete de flores silvestres, apontam para o japonesismo ornamental da época. No entanto, a tela tem estilo e unidade.” A pintura chegou a ilustrar a capa de um LP em vinil – “A canção brasileira”, com a soprano Maria Lúcia Godoy e ao piano, Maria Lúcia Pinho, de 1980; e um folder do Seminário “Escrever e Documentar: A nova História da Arte no Brasil, séculos XIX e XX”, realizado em maio de 2013, na UFRGS, em Porto Alegre.


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