CR1900 - Carta de Eliseu Visconti a Louise – 18 de outubro de 1900

  • Tipo de Documento Correspondências - Até 1900
  • Ano 1900
  • Acervo Projeto Eliseu Visconti

Em 1898, encerrado seu pensionato do Estado pela ENBA, Visconti decide permanecer na França por conta própria. Retornaria ao Brasil somente após a Exposição Universal de 1900, deixando em Paris a jovem francesa Louise Alexandrine Palombe, companheira desde 1898 e com quem ficaria casado pelo resto de sua vida. Visconti e Louise ainda precisariam de alguns anos para vencer a resistência dos pais da jovem e consolidar sua união. Certamente eles não permitiram que Louise, então com 18 anos de idade, acompanhasse o artista em seu retorno ao Brasil. No entanto, nesta carta de despedida datada de 18 de outubro de 1900, Visconti deixa claro que conhecer Louise mudaria sua vida. Escrita por Visconti poucas horas antes de embarcar para seu retorno ao Brasil, a carta permite avaliar o quanto foi importante para Visconti o relacionamento que manteve com Louise ao longo dos dois últimos anos de sua estada em Paris. Ao escrever a carta Visconti ainda não sabia que Louise estava grávida de Yvonne, que nasceria em junho de 1901.
Aqui está apresentada cópia da carta original, manuscrita em francês, e uma transcrição digitada em português.

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Paris, 18 de outubro de 1900

Minha Louise
Chove, o tempo também quis se associar ao meu estado de alma; ele também verte lágrimas, por que toda essa tristeza num só dia! É hoje mesmo que parto, mas me é difícil acreditar nisso.
O 18 de outubro é para mim uma data de lembranças e de dor, entretanto você poderia tê-la tornado mais alegre, se quisesse.
Os corações jamais como o seu esquecem tão rápido os incidentes de um romance vivido durante dois anos e meio.
A mulher galante pôde mais do que eu … Paciência!
Confesso-lhe que ontem à tarde esperava um bilhete seu, mas nada!
Voltei gelado pro meu Atelier, não poderei mais ficar lá, e me parece que não vivo mais.
Entretanto, é verdade, só tenho mais algumas poucas horas em Paris. Eu olho para sua janelinha e me parece lhe ver passar de um lado para o outro. É uma ilusão!
Nesse momento não estou raciocinando, é meu coração que lhe fala. Quantas coisas ele gostaria de lhe dizer de viva voz, mas você preferiu não escutá-las!
Lembro-me do encanto do nosso dia em St Cloud em igual data. Aquela bela lua que se levantava diante de nós em meio a uma vegetação dourada, mergulhando-nos ora na escuridão e ora na claridade de amor poético? Oh! Eu não quero me lembrar mais.
Em algumas horas, você não me verá mais nos cantos das ruas vindo ao seu encontro, éramos bem felizes, não é? Sim, minha Louise, começa para mim uma outra existência.  Até o presente eu não tinha outro ideal senão a arte, como você não tinha outro ideal senão o amor e o futuro.
Nossos objetivos, apesar de serem diversos, propunham-se a trilhar o mesmo caminho.
Quanto falta, minha cara, para acertar todos os meus negócios! Conversei com sua amiga, aliás ela lhe contará.
Na semana passada eu queria visitá-la, não quis arriscar meu tempo, porque você não estava em casa.
Eu lhe escreverei de bordo, do meio do mar, lhe contarei mil coisas de minha nova existência.
Não se entedie, cuide de sua saúde e sobretudo seus nervos. Você deve se controlar tanto quanto puder…
Um milhão de carinhos do seu
Elysée, e até logo.